Resenhado por Douglas Campagnol
Ficha Técnica:
Título: Todo Tempo Que Temos
Título Original: We Live in Time
Direção: John Crowley / Roteiro: Nick Payne
Elenco: Andrew Garfield, Florence Pugh, Lee Braithwaite, Douglas Hodge
Gênero: Comédia dramática, Romance
Ano de Lançamento: 2024 / Duração: 1h 56min
Resenha
Se você espera encontrar em Todo Tempo Que Temos uma história de amor tradicional, vale a pena ajustar as expectativas. O filme, embora siga a jornada do casal Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield), centra-se principalmente na história de Almut, uma mulher forte que, enquanto chef de cozinha, esposa e mãe, enfrenta a maior decisão de sua vida ao lutar contra um câncer devastador. Ela se depara com o dilema de continuar lutando com todas as suas forças ou de aproveitar os últimos momentos com a maior qualidade de vida possível. A história explora a profundidade dessa escolha, mostrando as complexidades emocionais e familiares que surgem.
Andrew Garfield, no papel de Tobias, tem menos tempo de tela, mas seu desempenho é intenso e bem construído. Ele complementa perfeitamente a atuação de Florence Pugh, que brilha como Almut, trazendo vulnerabilidade e força em um equilíbrio poderoso. Garfield mostra-se um parceiro de cena impecável, e sua atuação como um pai amoroso e dedicado lembra os espectadores da importância das relações familiares e do impacto que queremos deixar nos outros.
O roteiro de Nick Payne, apesar de ter alguns pontos onde poderia ser mais coeso, permite ao público mergulhar nos altos e baixos emocionais dos personagens. A narrativa não linear, que intercala momentos do passado e do presente, pode deixar alguns espectadores um pouco confusos, mas é justamente essa abordagem que confere autenticidade ao filme. As memórias nem sempre vêm de forma ordenada; são fragmentos que emergem em momentos significativos, proporcionando uma compreensão mais profunda do relacionamento do casal.
Entre os aspectos técnicos, o filme apresenta uma cinematografia delicada e expressiva que valoriza cada cena. Há diálogos pungentes que dão peso à narrativa, especialmente em momentos que tocam na mortalidade e no legado que deixamos. A relação entre Tobias e sua filha é outro ponto alto, com Garfield mostrando um lado sensível e amoroso. Esse aspecto da trama se entrelaça com a relação que Tobias tinha com seu próprio pai, o que adiciona uma camada de significado e continuidade à história.
O filme também bebe da simplicidade ao tratar temas complexos como amor, perda e o medo da morte. Almut e Tobias, com perspectivas diferentes sobre o futuro, mostram como o amor é capaz de unir mesmo nos momentos mais difíceis. Enquanto Almut busca aproveitar intensamente o presente, Tobias está disposto a sacrificar o agora por um possível futuro juntos. Esse contraste gera diálogos poderosos e questionamentos sobre o que realmente importa na vida.
Apesar de algumas piadas que parecem um pouco deslocadas, o filme é forte em sua proposta e entrega uma experiência emocionalmente rica. Todo Tempo Que Temos talvez não seja um filme perfeito, mas é um filme que toca profundamente, trazendo uma reflexão sobre o tempo que temos e as escolhas que fazemos. O que deixamos para aqueles que amamos? Qual é o nosso legado? Essas são perguntas que o filme nos incentiva a considerar.
As atuações de Florence Pugh e Andrew Garfield elevam a obra, tornando cada cena uma aula de interpretação e emoção. Para quem valoriza uma história honesta e comovente, o filme oferece uma jornada intensa e tocante.
Nota: ★★★☆☆
Reflexão
Todo Tempo Que Temos nos lembra que o amor e o tempo são nossos bens mais preciosos. Em cada cena, o filme deixa o espectador com uma questão inevitável: o que realmente queremos deixar para aqueles que amamos? Muitas vezes, em nossa pressa e no desejo de fazer tudo caber dentro do tempo limitado, nos esquecemos de que a verdadeira marca que deixamos está nas lembranças, nos gestos e na presença.
Assim como Almut, que reflete sobre o que significa amar profundamente mesmo diante da finitude, o filme nos convida a olhar para o tempo não apenas como minutos que passam, mas como uma coleção de momentos que podemos preencher com significado. Talvez o segredo seja aceitar que não podemos controlar o tempo, mas podemos escolher como vivê-lo — e, nesse processo, deixar um legado que transcenda nossa existência. Afinal, o que permanece são as histórias que criamos com aqueles que amamos e as lembranças que, um dia, serão o nosso reflexo em suas vidas.