Resenha Cine Clip: Anora (2025); O Filme que ganhou de “Ainda Estou aqui”, no Oscar

Por Douglas Campanhol

Ficha Técnica

• Direção e Roteiro: Sean Baker
• Elenco: Mikey Madison, Mark Eidelstein, Yura Borisov
• Gênero: Comédia dramática
• Duração: 139 minutos

“Nem todo conto de fadas tem um final feliz – e nem toda história de amor deveria começar.”

Resenha

Sean Baker sempre teve um olhar apurado para retratar personagens marginalizados, e Anora não foge à regra. Aqui, ele constrói um filme que parece uma comédia romântica no início, mas que, pouco a pouco, revela seu verdadeiro tom: um drama cru, carregado de críticas sociais e sem qualquer ilusão de final feliz.

A protagonista, Ani (Mikey Madison), é uma jovem trabalhadora do sexo do Brooklyn que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando se casa impulsivamente com o herdeiro de um oligarca russo. O que começa como uma aventura improvável logo se transforma em uma batalha de classes, com os pais do rapaz tentando separar o casal a qualquer custo. Baker filma tudo isso com sua câmera nervosa e realista, apostando na tensão crescente entre o sonho e a dura realidade.

O que diferencia Anora de outros filmes que abordam esse universo é justamente o tom que ele assume. Não há glamour, não há concessões. O roteiro leva o espectador por um caminho que parece nos fazer rir, mas, no fundo, nos obriga a refletir sobre as relações transacionais da nossa sociedade. O filme é estruturado de maneira engenhosa, alternando momentos cômicos e dramáticos, quase como uma dança entre a esperança e a desesperança.

Mikey Madison entrega uma performance de entrega total. Sua atuação é intensa, física e emocionalmente exaustiva. Ela domina o filme com uma presença magnética, transitando entre vulnerabilidade e força com impressionante naturalidade. O filme exige muito dela – de cenas de fúria e gritos a momentos de pura exaustão e desamparo – e Madison corresponde com uma entrega digna de prêmios.

Mas Anora não é para todo mundo. É um filme claramente feito para a Academia, e isso se reflete na forma como a história se desenrola. Para quem gosta de cinema como arte e aprecia uma abordagem mais crua e crítica, é uma experiência fascinante. Mas para quem quer apenas um bom filme para curtir no cinema, pode ser um pouco frustrante.

Nota:

★★★☆☆

Prêmios e Análise do Oscar

Na 97ª edição do Oscar, Anora levou cinco estatuetas, incluindo:

• Melhor Filme
• Melhor Direção (Sean Baker)
• Melhor Atriz (Mikey Madison)
• Melhor Roteiro Original
• Melhor Montagem

Agora, vamos falar do Oscar de Melhor Atriz. Essa categoria foi uma das mais disputadas do ano. Mikey Madison venceu, mas a disputa com Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui) e Demi Moore (The Substance) foi intensa.

Deixando o clubismo e o patriotismo de lado, a realidade é que tínhamos três atuações incríveis:

• Fernanda Torres trouxe um drama absurdo, uma entrega emocional avassaladora.
• Demi Moore teve um papel visceral, que exigiu um nível de intensidade raramente visto em sua carreira.
• Mikey Madison brilhou em uma atuação crua, cheia de nuances, que os votantes da Academia adoram.

Mas a sensação que fica é que o cinema valorizou mais a nudez e a performance acrobática da Madison do que uma atuação dramaticamente madura ou visceralmente chocante. Não há dúvida de que ela atuou bem, de que sua entrega foi completa, de que sua fisicalidade no papel exigiu muito dela. Mas quando coloco sua performance ao lado da de Demi Moore, sinto que o Oscar deveria ter sido da Demi.

Isso não significa que Madison não merecia reconhecimento. Ela brilhou no papel, fez um trabalho excelente, e não tirou o Oscar de ninguém. Mas sua vitória reflete um padrão recorrente na Academia: a valorização do impacto visual e da fisicalidade acima da profundidade emocional e do peso dramático.

No final das contas, Anora é um filme que vale a experiência para quem gosta de cinema provocativo. Mas sua consagração no Oscar mostra que ele foi feito sob medida para premiações – e não necessariamente para o público geral.

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