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Cinema – Resenha: Joker: Folie à Deux – “Ordinário”

Resenha por Douglas Campagnol

Ficha Técnica:

Título: Joker: Folie à Deux

Duração: 2h 15min

Direção: Todd Phillips

Roteiro: Todd Phillips, Scott Silver

Elenco Principal: Joaquin Phoenix (Arthur Fleck/Joker), Lady Gaga (Lee Quinzel/Harley Quinn), Catherine Keener (Maryanne Stewart), Harry Lawtey (Harvey Dent)

Gênero: Musical, Drama, Romance

Ano de Lançamento: 2024

Distribuição: Warner Bros. Pictures

Resenha:

Quando comecei a assistir Joker: Folie à Deux, a única coisa que vinha à minha mente era o chef Fogaça do Masterchef, dizendo: “menos é mais.” Durante o filme inteiro, essa frase ecoou. E é exatamente sobre isso que esta resenha vai tratar.

O filme tenta inserir uma infinidade de elementos: é musical, romance, drama e suspense, tudo ao mesmo tempo. Separadamente, cada aspecto do filme é fenomenal: o musical é um espetáculo à parte – Lady Gaga, como sempre, entrega uma performance vocal extraordinária; o drama é envolvente, a narrativa de Arthur Fleck é pungente e intensa, e a atuação de Joaquin Phoenix é simplesmente impecável. Porém, ao combinar todos esses elementos, o filme acaba sendo um prato cheio de confusão.

Imagine pegar um bolo de chocolate trufado, uma Coca-Cola gelada, uma picanha suculenta, um pudim e uma lasanha deliciosa – cada item, separadamente, é maravilhoso. Agora, tente misturar tudo isso num único recipiente. Esse é Joker: Folie à Deux. Enquanto cada parte isolada é incrível, juntas, acabam resultando em algo que confunde o espectador. Há momentos em que você ama o que está assistindo, e em outros momentos, simplesmente não faz sentido.

A história de Joker: Folie à Deux aborda temas profundos e perturbadores, como a onda recente de mulheres que se apaixonam por assassinos nas redes sociais. O filme faz uma crítica social a esse comportamento, refletindo casos reais como os de Richard Ramirez, o “Night Stalker”, e Ted Bundy, que, durante os julgamentos, receberam cartas de admiradoras e até propostas de casamento. Lady Gaga, interpretando Lee Quinzel, encarna esse tipo de personagem – uma mulher fascinada pelo “bad boy”, que decide entrar em Arkham para se aproximar do objeto de sua obsessão. Gaga se destaca em suas cenas musicais ao lado de Phoenix, onde juntos eles dão vida a clássicos como “That’s Entertainment” e “Gonna Build a Mountain” em números elaborados que, por si só, são fantásticos, mas acabam destoando do tom geral do filme.

Joaquin Phoenix, mais uma vez, mostra porque é um dos maiores atores de sua geração. Sua interpretação de Arthur Fleck é tão crua e visceral quanto no primeiro filme. Phoenix descreveu sua experiência como “um mergulho profundo na psique de Arthur, explorando as camadas de um personagem que, em muitos momentos, ainda se sente perdido entre o real e o delírio”. Catherine Keener, no papel da advogada Maryanne Stewart, também tem uma atuação sólida, trazendo nuances ao defender Arthur no tribunal, enquanto o promotor Harvey Dent (interpretado por Harry Lawtey) busca a pena de morte para Fleck.

Algumas críticas destacam a ousadia do filme ao misturar gêneros, embora isso tenha levado a reações divididas do público. Caio Coletti, do The Prague Reporter, afirmou: “Se o primeiro Joker era sobre um homem que se rebelava contra um mundo cruel e indiferente, Folie à Deux é sobre esse mesmo mundo se voltando contra ele.” Ele também menciona que o filme não permite ao público interpretar as ações de Arthur como no anterior, fazendo com que o espectador sinta menos empatia e mais perplexidade diante dos acontecimentos.

A cinematografia de Lawrence Sher e a trilha sonora de Hildur Guðnadóttir são aspectos que não podem ser ignorados. A qualidade técnica do filme é de altíssimo nível, desde os visuais evocativos até a música, que cria uma atmosfera sombria e perturbadora, acompanhando cada momento de tensão e delírio. Entretanto, mesmo com esses elementos excepcionais, a narrativa se perde ao tentar abarcar tantos temas e estilos diferentes.

O título da resenha não poderia ser mais apropriado: “Ordinário”. Este é um filme de extremos – em momentos, é uma obra-prima; em outros, é apenas confuso. Arthur Fleck é desconstruído ao longo do filme, mostrando não o “Coringa fodão” que muitos esperavam, mas sim um homem quebrado, com uma doença mental severa. A proposta é digna de Oscar, mas a execução peca pelo excesso. Como o próprio Fogaça diria, “menos é mais”. Se tivessem focado em menos elementos e dado mais atenção ao desenvolvimento de cada um, o resultado poderia ter sido muito mais impactante.

Nota do Filme: ★★★★☆

Por quê? Apesar dos problemas, não posso negar a grandiosidade das atuações. Joaquin Phoenix e Lady Gaga brilham, a fotografia é excepcional, e a trilha sonora é cativante. Porém, o excesso de elementos impede que o filme seja a obra-prima que poderia ter sido. No final, o filme deixa uma sensação mista – é amor e ódio ao mesmo tempo, e talvez essa tenha sido a intenção de Todd Phillips. Para aqueles que esperam uma continuidade linear do primeiro filme, Folie à Deux vai ser uma experiência desafiadora. É um filme que provoca, que faz pensar, mas que também cansa.

O final do filme é absolutamente impactante – um desfecho inesperado que te faz cair da cadeira. É um daqueles momentos em que você não sabe se está frustrado ou feliz com o que acabou de ver. Deixo para você, querido leitor, a tarefa de decidir. Assista ao filme, sinta a montanha-russa de emoções e depois me diga: você amou ou odiou? Eu, por enquanto, ainda não consegui decidir.

Até a próxima, semana que vem, com mais uma resenha.

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