ClipFM – 88.7

Resenha: Silvio Santos: O Sequestro

Resenha por Douglas Campagnol

Ficha Técnica:

Título: Silvio Santos: O Sequestro

Duração: 1h 54min

Direção: Marcelo Antunez

Roteiro: Newton Cannito, Anderson Almeida

Elenco Principal: Rodrigo Faro (Silvio Santos), Johnnas Oliva (Fernando Dutra), Paulo Gorgulho (Comandante da Polícia Militar), Polliana Aleixo

Gênero: Drama

Ano de Lançamento: 2024

Resenha:

Hoje, assisti ao filme Silvio Santos: O Sequestro no Topázio Cinemas. O filme, que estreou em um momento sensível, pouco após a morte do lendário Silvio Santos, retrata o sequestro vivido pelo apresentador no início dos anos 2000. Desde o anúncio de sua produção, o filme gerou bastante expectativa e preocupação, especialmente porque se trata de uma narrativa que lida com um dos momentos mais tensos da vida do empresário e apresentador, alguém profundamente querido pelo público brasileiro.

Rodrigo Faro assume o desafio de interpretar Silvio Santos, e é importante destacar que ele se esforça muito nesse papel. Durante as cenas do sequestro, Faro entrega uma atuação convincente. Ele consegue transmitir a tensão e o controle emocional que a situação exigiu, transformando Silvio Santos em uma figura quase heroica – uma espécie de Bruce Wayne brasileiro, um negociador hábil, capaz de manipular a situação a seu favor. Em alguns momentos, é possível esquecer que estamos assistindo a uma história baseada em fatos reais, tamanha é a transformação de Silvio Santos em um herói de cinema.

No entanto, quando Faro tenta encarnar o Silvio Santos que conhecemos da TV, o resultado é bem diferente. Suas tentativas de capturar a energia e o carisma que fizeram de Silvio um ícone da televisão brasileira não funcionam. A performance é forçada, quase caricata, e isso prejudica a imersão no filme. O contraste entre as cenas do sequestro e as cenas de Faro tentando ser o Silvio dos palcos é evidente e, infelizmente, desconcertante.

O restante do elenco deixa muito a desejar. A atuação de Johnnas Oliva, que interpreta Fernando Dutra, é uma exceção, trazendo uma certa intensidade à sua interpretação. Por outro lado, Paulo Gorgulho, no papel do comandante da Polícia Militar, e Polliana Aleixo, não conseguem trazer a mesma força para seus papéis, deixando as interações entre os personagens deslocadas, como se faltasse direção ou um roteiro mais coeso.

A direção de Marcelo Antunez e o roteiro de Newton Cannito e Anderson Almeida são os pontos mais fracos do filme. A narrativa é fragmentada, com cortes bruscos entre passado e presente que não se conectam bem, criando uma experiência confusa para o espectador. As cenas de flashback que deveriam enriquecer a história são mal executadas, com transições abruptas que prejudicam a continuidade e a fluidez do enredo.

Além disso, a maquiagem de Faro como Silvio Santos é lamentável. Há cenas em que a peruca é claramente visível, com marcações evidentes na testa do ator – um erro amador em uma produção que deveria ser de alto nível. Esses detalhes fazem com que o filme perca ainda mais a credibilidade, tornando difícil para o público se conectar com a narrativa.

Apesar desses problemas, é interessante notar a reação do público. A sessão que assisti estava repleta de senhoras, provavelmente fãs de longa data de Silvio Santos, e elas pareciam genuinamente emocionadas. Para elas, ver Silvio Santos retratado como um herói, capaz de enfrentar bandidos e manipular a situação a seu favor, foi algo especial. O filme parece ter capturado a essência do mito que Silvio Santos representa para muitos brasileiros, mesmo que isso tenha sido feito de uma forma exagerada e fantasiosa.

Nota: ★★☆☆☆

Dou duas estrelas para o filme, basicamente pela dedicação de Rodrigo Faro e pela atuação razoável de Johnnas Oliva. A maquiagem, a direção, o roteiro e a atuação do elenco coadjuvante são tão fracos que, em muitos momentos, é difícil continuar assistindo. No entanto, a experiência nostálgica que o filme proporciona a um público específico não pode ser ignorada.

Análise Comparativa: A Realidade vs. A Ficção

Agora, vamos analisar o que realmente aconteceu durante o sequestro de Silvio Santos e como isso foi representado no filme. Em agosto de 2001, Silvio Santos foi mantido refém em sua casa, em São Paulo, por Fernando Dutra Pinto, o mesmo sequestrador que havia raptado sua filha, Patrícia Abravanel, dias antes. O sequestro de Silvio durou cerca de sete horas e terminou de forma pacífica, com a rendição de Fernando após negociação com a polícia. Silvio Santos foi elogiado pela calma e compostura que demonstrou durante todo o incidente.

No filme, essa história real é completamente transformada em uma fantasia heroica. O Silvio Santos retratado na tela é quase um super-herói, negociando com o sequestrador como se fosse um especialista em crises, capaz de manipular a mente de seu captor e até mesmo arriscar sua vida para salvá-lo de um tiro. Na vida real, Silvio seguiu as orientações da polícia, manteve a calma e esperou que as autoridades resolvessem a situação – um comportamento completamente diferente do que é mostrado no filme.

A decisão de transformar um evento tão sério em um espetáculo cinematográfico cheio de licenças poéticas pode ser vista como uma homenagem exagerada, mas é importante que o público entenda que o que está sendo mostrado na tela é uma versão altamente dramatizada e fictícia dos fatos. Para aqueles que buscam um relato fiel da história, o filme certamente será decepcionante. Mas para os que querem apenas entretenimento leve e nostálgico, ele pode cumprir seu papel.

Em resumo, Silvio Santos: O Sequestro é um filme que não faz jus à importância da figura que busca retratar, mas que ainda assim pode ter seu valor para quem deseja relembrar, mesmo que de forma fantasiosa, um dos maiores ícones da TV brasileira.


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