Ovos foram encontrados em Uberaba, no Triângulo Mineiro.
Num típico movimento de preservação da espécie, dinossauros gigantes migraram para Uberaba, no Triângulo Mineiro, no período pré-histórico e puseram seus ovos a 30 quilômetros do centro do município, onde atualmente existe o bairro rural Ponte Alta. Mas o local foi atingido por uma torrente de chuva, com muita lama e cascalho, e não houve como os ovos eclodirem.
A história foi reconstituída recentemente por pesquisadores da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), após encontrarem o primeiro ninho de dinossauros já identificado no Brasil. A conclusão dos trabalhos foi publicada no periódico Scientific Reports no dia 24 de março.
Os ovos têm 12 centímetros de diâmetro e são curiosamente pequenos perto do tamanho dos animais, que chegavam a 18 metros de comprimento, de acordo com o professor de geologia da UFTM, Luiz Carlos Borges Ribeiro. Ele disse ao Estadão que o achado surpreendeu a todos.
– Esses ovos são provenientes de achados fortuitos, as pessoas acabam trazendo, não houve uma equipe de escavação – declarou.
Após alguns ovos serem encontrados em uma área pertencente a uma mineradora, um colega do professor, o paleontologista João Ismael da Silva, localizou o ninho.
TITANOSSAUROS
Eles reuniram, ao todo, 20 fósseis, cujas características foram comparadas com exemplares de outros locais do mundo, principalmente da Argentina. Concluiu-se, então, que os dinossauros que puseram os ovos são do grupo dos titanossauros, considerados os maiores animais terrestres de todos os tempos. Eles eram herbívoros e quadrúpedes, com o pescoço bastante comprido e a cabeça pequena.
A morfologia das ninhadas e as observações das características sedimentares reforçam a hipótese de que esses saurópodes eram dinossauros nidificantes, como já foi sugerido para o grupo com base em outros locais de nidificação.
– A descoberta mostra o ambiente em que os dinossauros migravam, ajudando a descrever seus ecossistemas e revelando uma sazonalidade das manadas – afirma Ribeiro.
Segundo ele, assim como toda a região, o local encontrado era bastante favorável para a fossilização.
Como não houve uma equipe de escavação e a descoberta foi feita quase que aleatoriamente, o professor espera obter apoio para prosseguir com os estudos. Para os pesquisadores da UFTM, os ovos podem ser a ponta de um iceberg, ou melhor, de novos tesouros paleontológicos.
– Se tem ninhada de dinossauro, deve ter embriões também. Filhotes nascidos, parte da mãe, que morreram ali. Gostaríamos de ver com olhar mais científico qual seria a real grandeza desses níveis de nidificação. Eles não estavam isolados, com certeza – garante o professor.
Ele já solicitou à Agência Nacional de Mineração que atue como intermediária. O objetivo é obter autorização e apoio financeiro para fazer as escavações.
– Somos uma universidade federal e um centro de pesquisas, temos pouco dinheiro – diz ele.
Posteriormente, eles visam criar um geossítio das ninhadas de dinossauros.
– Podemos colocar réplicas lá, vai fomentar o turismo e a criançada vai adorar – previu.
GEOPARQUE
A expectativa dos pesquisadores é de que a descoberta do primeiro ninho de dinossauros do Brasil impulsione a criação de um geoparque na região de Uberaba, um projeto que começou a ser discutido há alguns anos, mas ainda não foi concretizado. O aval depende da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Os geoparques são territórios com importância científica, cultural, geológica, arqueológica e paleontológica. O projeto que será montado em Uberaba será o primeiro de Minas Gerais.
Desde que os primeiros vestígios fósseis foram descobertos na região, há 80 anos, a cidade tem um acervo com 3 mil espécies catalogadas, entre dinossauros herbívoros, carnívoros e crocodilos.
– Já descrevemos 15 espécies novas únicas no mundo: quatro dinossauros, cinco crocodilos, três tartarugas, duas rãs e um lagarto. Quase todas achadas no entorno de Peirópolis – conta o geólogo.
Peirópolis é um bairro rural de Uberaba que concentra a maioria dos achados e abriga o Museu dos Dinossauros e o Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price.
– Pretendemos enviar em junho a carta de intenção para a Unesco – diz o professor Luiz Carlos Borges Ribeiro.
Fonte: Pleno News